corta
cena um
o fio afiado da faca
disseca palavras
precisa-se delas
aos pedaços
corta sem machucar
costura borda
remenda o silêncio
transforma o homem
o discurso em ação
fina navalha
corda bamba
fica por dizer a vertigem dos dias
conta
diz onde está o equilíbrio
em movimento?
volta pra estrada
encontra o caminho
corta
mergulha a carne quente
mãos bocas dentes
na corrente gelada
do mar
Um comentário:
Márcia, neste seu Corta vejo meus próprios interesses lexicográficos e lexicológicos quando bisturi na mão disseco a anatomia de palavras em linguas cadáver. Não é bem isso que você diz com sua faca cortadora de palavras mas também não é isso que eu digo aqui uma análise morfológica. Assemelha-se a um estudo de anatomia inclusive na aridez, na precisão dos talhos (bem maior que a dos magarefes), no rigor do método, mas não a seu "corta", que é prenhe de poesia.
Vim conhecer-lhe o blog e agradecer-lhe a presença no meu. Daí que li o quanto basta para lhe assegurar que sua poética me convence. Com só esta amostra mínima já presumo uma obviedade: você tem mais. Se não objetivado em texto ainda, você própria é a usina que ainda sente, tem o que dizer e a meu juízo deve continuar fazendo-o.
Reitero meus agradecimentos e lhe garanto à Tom/Chico: "Vou voltar, sei que ainda vou voltar..."
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