domingo, 21 de janeiro de 2007

corta

corta

cena um

o fio afiado da faca

disseca palavras

precisa-se delas

aos pedaços

corta sem machucar

costura borda

remenda o silêncio

transforma o homem

o discurso em ação

fina navalha

corda bamba

fica por dizer a vertigem dos dias

conta

diz onde está o equilíbrio

em movimento?

volta pra estrada

encontra o caminho

corta

mergulha a carne quente

mãos bocas dentes

na corrente gelada

do mar

Um comentário:

João Esteves disse...

Márcia, neste seu Corta vejo meus próprios interesses lexicográficos e lexicológicos quando bisturi na mão disseco a anatomia de palavras em linguas cadáver. Não é bem isso que você diz com sua faca cortadora de palavras mas também não é isso que eu digo aqui uma análise morfológica. Assemelha-se a um estudo de anatomia inclusive na aridez, na precisão dos talhos (bem maior que a dos magarefes), no rigor do método, mas não a seu "corta", que é prenhe de poesia.
Vim conhecer-lhe o blog e agradecer-lhe a presença no meu. Daí que li o quanto basta para lhe assegurar que sua poética me convence. Com só esta amostra mínima já presumo uma obviedade: você tem mais. Se não objetivado em texto ainda, você própria é a usina que ainda sente, tem o que dizer e a meu juízo deve continuar fazendo-o.
Reitero meus agradecimentos e lhe garanto à Tom/Chico: "Vou voltar, sei que ainda vou voltar..."