quinta-feira, 2 de julho de 2009

libelo - josé régio

Libelo
José Régio, Antologia Poética


Por caminhos só rectos, não sei ir.
Nos ínvios por que vou, não sei ficar.
Suspenso do passado e do porvir,
Venho e vou!, venho e vou!, não sei parar,

Abri asas nas mãos para fugir,
E raízes nos pés para amarrar.
(Levava chão nos pés indo a subir,
Trazia céu nas mãos vindo a baixar...)

Eis, porém, que estes dons ultra-humanizam,
E os homens, meus irmãos, se escandalizam
E me espontam as asas e as raízes.

Assim se castram eles próprios, pobres!,
E tendo-se, mais vis, por mais felizes,
Se satisfazem com seus magros cobres...